terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Anarquismo e violência

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A palavra anarquia vem do grego e significa "sem comando", mas seria limitativo reduzir-la unicamente à supressão do Estado, o projecto anarquista propõe a sua substituição por uma sociedade organizada sem autoridade. Como tal, a anarquia não é sinónimo de caos, como constantemente divulgado nos meios de comunicação social, antes pelo contrário. Também não é sinónimo de violência, apesar de muitos anarquistas a ela terem recorrido.




A violência está presente na nossa sociedade a vários níveis: o Estado, o militarismo, o patriarcado, o racismo, o sexismo, tudos provocam pequenas e grandes violências políticas, económicas, sociais ou culturais. Partido do facto de que o poder está construído, em parte, com base na violência, não faria qualquer sentido legitimar um princípio que o anarquismo justamente combate.


Existe uma corrente revolucionária não-violenta, apesar de minoritária, no seio do movimento anarquista. A própria definição de anarquismo não é simples, dado que é não baseada num pensador único ou num sistema de pensamento congelado, pelo contrário, caracteriza-se por um pensamento em constante evolução, por princípio o anarquismo opõe-se a todas as formas de absolutismo.


Esta não-violência não significa resignação ou passividade, mas pelo contrário, é um combate constante, na procura da libertação dos constrangimentos impostos pelas estruturas estatais. Essa procura de igualdade entre todos, essa ordem sem Estado, representa a liberdade.


Ser partidário da não-violência, não significa condenar os que não tem outro recurso para se libertar da opressão a não ser o recurso às armas. Não se trata portanto, de erigir a não-violência a um absoluto moral puritano, mas de encontrar, se possível, um meio para combater o opressor.


O movimento anarquista não-violente pode parecer uma forma idealista de combate, mas perante o gigantismo das forças repressivas actuais e os meios de controlo de que dispõem as estruturas autoritárias dos Estados, a escolha da violência, ela sim, pode parecer uma escolha pouco realista, tal a diferença da relação de força entre os opressores e os oprimidos.


O projecto anarquista na sua essência visa a eliminação da violência na organização social, e como tal a abolição das relações de dominação hierarquizada na nossa sociedade, institucionalizada cada vez mais de forma discreta, mas cada vez mais presente. Enquanto os movimentos políticos tem por finalidade a conquista do poder, pelas armas ou pelo voto, o movimento anarquista é o único que tem como objectivo a abolição desse mesmo poder.




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13 comentários:

  1. A ideia de anarquismo generalizada é mesmo esta: 'Como tal, a anarquia não é sinónimo de caos, como constantemente divulgado nos meios de comunicação social'.

    Este conceito está de tal forma enraizado, que o termo 'anarquia' é somente discutido em meios muito restritos.

    Penso que valia a pena aprofundar um pouco mais o tema.

    krowler

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  2. Completamente. A "confusão" (propositada) entre anarquia (ausência de coação) e anomia (ausência de ordem) é tanta que já vem no dicionário!
    Sempre que vem à baila o assunto perco tempo infinito a desmistificar e a sintonizar as pessoas para a anarquia.
    Abraço

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  3. "The Anarchists are right in everything; in the negation of the existing order and in the assertion that, without Authority there could not be worse violence than that of Authority under existing conditions. They are mistaken only in thinking that anarchy can be instituted by a violent revolution. But it will be instituted only by there being more and more people who do not require the protection of governmental power and by there being more and more people who will be ashamed of applying this power."
    --- Leo Tolstoy, On Anarchy

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    1. Fernando,

      Como não podia deixar de ser, estava à espera do teu comentário.

      Obrigado pela referência.

      Um abraço solidário.

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  4. Dr. Octopus.

    Acompanho o seu blog, e admiro muito do que escreve.

    Contudo permita-me a critica, penso que por vezes perde um bocado o fio condutor com certos posts, e este é exemplo disso.

    Defender anarquia?

    Mas será que o senhor acredita mesmo nesses anarquistas "ordeiros"?

    A anarquia é anarquia, e o lema é bem conhecido: "Enforcar o ultimo juiz, com as visceras do ultimo padre."

    É esta a sociedade que quer?

    Essa gente ligada aos partidos de esquerda com rastas dependuradas não interesse ablutamente a ninguem.

    Ordem e progresso é isso que precisamos.

    Anarquia é o contrário disso.

    É uma utopia

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    1. Caro anónimo,

      Esta é uma das ideias que defendo, senão não a teria escrito.

      Não partilho de ideologia ligada a qualquer partido, aliás não aceito os partidos políticos como solução para os problemas da sociedade actual.

      Quando fala em ordem e progresso, lembro-lhe que o anarquismo não defende o caos, como vulgarmente é divulgado, o verdadeiro anarquismo não é contra a ordem, antes pelo contrário, defende uma ordem genuína baseada no respeito pelas liberdades individuais, só que esse não deve ser imposta de cima para baixo, mas si de baixo para cima.

      A verdadeira essência anarquista não preconiza a violência que seria utilizar os mesmos meios de coação utilizados pelo Estado actual, mas sim uma solução equitativa das responsabilidades e uma justa redistribuição da riqueza produzida.

      É essa linha de pensamento que defendo. Utópica? Pode ser, mas grande parte da nossa sociedade foi modificada com utopias que julgava-mos impossíveis.

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  5. Com a permissão do autor do espaço;

    Caro anónimo das 13:22.
    "Essa gente ligada aos partidos de esquerda com rastas dependuradas não interesse ablutamente a ninguem."

    Esta sua frase revela tudo; um conhecimento pré formatado sobre a questão.

    Alguns dos mais importantes filósofos da história da humanidade são gente de esquerda com rastas dependuradas?????

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  6. Amigo,

    Obrigado pela sua precisão.

    "Esquerda" ou "direita" não fazem qualquer sentido na sociedade actual. Claro que o anarquismo faz parte da chamada esquerda do panorama do divisionismo imposto pelo poder vigente. Mas este movimento é mais do que querelas partidárias, porque acima das mesmas.

    O anarquismo representa mais de que um movimento, uma filosofia. É nesse sentido que deve ser encarado.

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    1. Sei que é comum definir Anarquismo como sinónimo de Socialismo Libertário, devido à origem comum destes dois. E a maior parte dos anarquistas - pelo menos, na Europa - são, de facto, socialistas. Mas, também há formas de Anarquismo que defendem a posse privada dos meios de produção. E que, por isso, se poderão considerar mais próximas da chamada "direita" do espectro político autoritário. O Anarquismo, enquanto ideologia socio-político-económica, surgiu como uma tendência antiautoritária dentro do movimento socialista do século XIX, mas evoluiu, entretanto, para uma ideologia própria, que não tem, necessaria e especificamente, de ser socialista.

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  7. Sublinho krowler, é uma pena a ideia de anarquia estar tão estereotipada. A associação automática da anarquia à violência e à desordem é uma distorção completa do conceito, distorção essa que obviamente é benéfica e mesmo alimentada por e para vários interesses.

    Comecei recentemente a ler alguns livros neste tema os quais tenho achado muito interessantes e com os quais me identifico bastante. Entre eles o "Pela Vida" de Alexandra David Neel e o "Aviso aos Alunos do Ensino Básico e Secundário" de Raoul Vaneigem.

    Do meu ponto de vista a anarquia é a anulação da subjugação a qualquer autoridade (seja ela moral, etc) o que resulta na autonomização do individuo. Expressão livre e genuína de cada indivíduo.

    Não sei se estou errada, mas julgo que é muito comum as pessoas que não estão muito familiarizadas descartam o ponto da propriedade privada. Estou a expor o meu ponto de vista. Eu mesma tinha esta noção até há algum tempo atrás, e julgava muito perigoso deixar de haver uma entidade que regulamentasse o capital. Esta distorção do conceito de anarquia é muito conveniente ao neo-liberalismo.
    A verdade é que a questão da propriedade é algo que por vezes me suscita bastantes dúvidas, e por vezes me parece ser um pilar essencial da anarquia.

    Gostei do artigo, gostei do tema.

    Rita

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  8. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  9. QUAL O NOME QUE SE DA A OS ANARQUISTAS QUE USAM A VIOLENCIA .?

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