sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O isco do aumento da meia hora de trabalho diária

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O Conselho de Ministros tinha aprovado o aumento de meia hora diária do horário de trabalho no sector privado, sem uma data para a entrada em vigor dessa medida. 


Essa medida foi, claro, legitimamente combatida pelos sindicatos, e até vários sectores do patronato que não viam grande vantagem nela. Por causa, era uma medida descabida, não aumentava a competitividade, reduzia os salários, e nem sequer era preconizada pela troika. 



Na realidade essa medida era um isco. 



Ao chamar a si todas as críticas, o governo permitiu que, uma vez eliminada, o vasto conjunto das outras medidas alternativas parecessem menos más.
Assim o dirigente sindical da UGT acabou por assinar um acordo em que as condições de trabalho pioraram, mas que toda gente considera aceitáveis: menos más.




Caiu a famosa meia hora de trabalho, mas temos:



- A criação de uma “bolsa individual” de 150 horas que será arbitrariamente gerida pelo patronato, o que constitui um autêntico "lay off" ao horário laboral, permitindo que o patronato obrigue os trabalhadores a realizar menos horas num dia, que poderão “compensar”, depois, noutro dia que melhor aprouver ao patronato, sejam elas prestadas num horário fora dos turnos habituais, seja a um sábado, domingo ou dia feriado, não sendo pagas como “horas extraordinárias".

- Roubo de três dias de férias, passando dos 25 dias úteis anuais, para os vinte e dois.

- Eliminação de 3 ou 4 dias de férias.

- Possibilidade de despedimento por extensão de posto de trabalho.

- Despedir por inadaptação passa a ser possível sem  introdução de novas tecnologias ou mudanças no posto, basta haver quebra continuada de produtividade ou qualidade, avarias repetidas ou riscos para a segurança e saúde, por culpa do trabalhador.
- O valor de horas extra cairá para metade. 




Todas estas medidas são mais gravosas do que a supostamente meia hora que o governo tentava impor. O método continua a ser o mesmo ludibriar o povo com uma medida inaceitável, que à partida serve de isco, para depois aprovar um conjunto de medidas lesivas que passam como aceitáveis.





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6 comentários:

  1. ...e essa estratégia (ou táctica?) é e será seguida até à exaustão. É uma regra básica da manipulação... que resulta... sempre (para quem queira ser conivente)

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  2. Há que ver agora qual vai ser a recompensa do Proença, por ter alinhado cordatamente neste embuste. É que o PPC, como já o demonstrou recentemente, é um mãos largas no que toca a distribuir recompensas a quem lhe faz jeitinhos.

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  3. Sou suficientemente velho ( 68 ) para ter assistido a quase tudo. Quando eu fui dirigente sindical ( quadriénio 1976/79 ) a UGT chamava-se "Carta Aberta", e surgiu, alegadamente para combater a "unicidade", porque lutava a CGTP-IN, ( "unicidade" versus "unidade" ), depois passou a chamar-se MADISCA ( não me perguntem o que era a sigla, não me lembro...) e, finalmente, passou a chamar-se UGT. Foi criada pela grande capital ( muitos dos que fugiram para o Brasil e que depois voltaram,domesticados os ímpetos do PREC... ) Foi de imediato, apoiada pelo PS de Soares e por todos os partidos à sua direita. Dizia lutar pelo "pluralismo sindical" ( seja lá isso o que for ) e contra o facto de a CGTP ser uma "correia de transmissão" do PCP.
    Vê-se agora de quem é que eles, UGT, são correia de transmissão! Dos trabalhadores e dos seus interesses é que não são, com certeza!
    Mais clarinho do que este acordo, é impossível ( até o Torres Couto, seu fundador e ex-dirigente, vaticina uma certidão de óbito à UGT por causa de ter assinado! )...
    O seu papel de reles vendidos permitiu à associação de malfeitores que nos governa embandeirar em arco e vir proclamar que o "Acordo" tinha a assinatura "dos parceiros sociais".
    E a nossa imprensa "de referência" repetiu a mentira nos telejornais como se de uma verdade se tratasse ("his master's voice"...)

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  4. Mas estou inteiramente de acordo com seu texto, Dr. Octopus, de que essa medida ( a meia hora de trabalho grátis )era um isco.

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  5. A única forma de levar uma MANADA a cometer "suicídio" é se a distraírem com um belo de um ISCO... Chegada ao precipício o ISCO evapora-se e a MANADA ouve "Ou o precipício ou redução de 4 para 1 ferradura" E pronto... lá passa a ter que ser só uma Ferradura!

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  6. Espertos foram eles, porque viram que a EDP utiliza esse método do isco há uns anos e cai tudo na esparrela que até dá dó! Todos os anos em outubro, atiram para o ar que a electricidade vai aumentar uma percentagem enorme, 15%, 14%, 16%, etc. e depois aumentam, 3%, 4% ou 5%. Este ano que passou, eu estava á espera e lá vieram eles bater o record, dizendo que iriam aumentar mais de 20%. Está claro que foi noticiado, posto em causa, desmentido um aumento tão grande e depois pespegan-nos com 4% em cima do IVA que foi para 23% e ficou tudo a limpar o suor da testa pelo aumento ter sido tão pequeno!! Tolo é quem muito come e mais tolo é quem lho dá. Perante tanto conformismo eles aproveitam...
    Já se viu a estirpe dos políticos e quem ainda tiver dúvidas, que leia o último post do "Guerra". Está em acção o genocídio a nível mundial. Não há lugar para compreensões nem para ter dó nesta etapa. Eles é que estão a safar o couro...
    Ah! também achei curioso o Governo ter eliminado à sucapa um parágrafo que ía contra os interesses da Tróika, no acordo de concertação social. Maravilha! Eu só de sacanas é que ouvi falar de tais actos... eliminar um parágrafo já assinado pelos "parceiros" sociais, porque ía contra os interesses da Tróika?!

    Quanto aos sindicatos, o que foi feito da Inter Sindical?! Não conta?

    Um abraço

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