sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A guerra do Cacau

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O cacau é um bom exemplo da opacidade e desregulamentação dos mercados alimentares. A recente subida do seu preço em mais de 160%, em grande parte devido aos conflitos na Costa do Marfim (o principal produtor), esconde uma rede restrita de multinacionais que o comercializa e transforma, e onde a especulação é lei.




Produzido nos países pobres para os países ricos.



O cacau é uma das principais mercadorias transaccionadas ao nível mundial, logo a seguir ao café e ao açúcar. O seu preço está dependente sobretudo da oferta e da procura, e a longo prazo está estreitamente ligado ao ciclo do cacau ou seja ciclos de 20 anos.


Como podemos ver no gráfico seguinte, apesar da produção ter duplicado entre 1970 e 2005, o preço manteve-se estável, em termos absolutos, durante todo este período, o que significa um menor rendimento para os produtores.


Prix mondiaux et production de cacao de 1971/72 à 2005/06 (estimations)



O mercado mundial de cacau representa 3 mil milhares de dólares anuais. Este apetecível negócio está nas mãos de 6 multinacionais para parte comercial (Cargill, Olam, Touton, ADM, Confinaf e Noble) e de 5 multinacionais para a parte da transformação (Cargill, ADM, Barry Callebout, Petra Foods e Bloomer).



80% do consumo de cacau situa-se nos países industrializados, do hemisfério norte, quanto à sua produção, ela concentra-se sobretudo em África (Costa do Marfim 35%, Gana 18% e Nigéria 12%), e também na Indonésia (14%) en o Brasil (5%).




Um especulador profissional.




Nos dois últimos anos, o preço do cacau nos mercados duplicou devido a uma baixa de produção em África (por causas climáticas) e pelo aumento da procura de países como a China e a índia. A instabilidade política na Costa do Marfim só aparece como causa nas últimas semanas mas, como iremos ver, já ouve períodos anteriores de instabilidade criados por especuladores para fazer subir artificialmente os preços.



Anthony Ward, CEO de Armajaro Holding com escritórios em Londres mas com sede numa off-shore nas ilhas Virgens, é o principal fornecedor de ADM. Em julho do ano passado comprou 7% da produção mundial (240 000 toneladas), 15 % dos estoques mundiais e 25% dos estoques europeus. Para ter uma ideia do tamanho da compra, imagine 5 barcos com as dimensões do Titanic cheios de cacau e terá essas 240 000 toneladas.Objectivo: diminuir a oferta para fazer subir os preços. Resultado: o maior aumento do preço do cacau em 33 anos.





Esta não é a primeira vez que Anthony Ward pratica uma especulação deste género, em 2002 tinha feito a mesma coisa, nessa altura teve um benefício de 40 milhões de dólares após a revenda de 202 000 toneladas de cacau. As principais vitimas destas especulações são os pequenos agricultores.



A desregulamentação mundial é de tal ordem, que o volume de cacau negociado nos mercados de matérias-primas de Londres e Nova Iorque é várias vezes superior à quantidade realmente produzida.


Anthony Ward não é um homem de negócios qualquer, negoceia entre 400 000 e 500 000 toneladas de cacau anualmente, o que representa um sétimo da produção mundial. Apelidado de "Chocolate Finger" este homem vive das suas especulações financiando ao longo destes anos várias revoltas na Costa do Marfim, através da AIG Fund, para dificultar a produção de cacau e assim fazer subir os preços. Ainda recentemente transferiu ilegalmente grandes quantidades de cacau do Gana para a Costa do Marfim com o mesmo objectivo: manipular os mercados.




Corrupção e ligações secretas.



Armajaro foi fundada por antigos membro de Phibro (Philip Brothers), os mesmos que tiveram implicados na construção do relatório financeiro que esteve na origem do golpe de estado contra Salvador Allende no Chile. O mundo é pequeno! Esta participação permitiu ao Grupo Phibro ganhar mais valias no mercado do cobre de cerca de 14 mil milhões de dólares.


Antes de trabalhar para Phibro, Anthony Ward pertencia aos serviços secretos britânicos MI 5.
Alguns membros de Phibro estiveram na origem da desestabilização do ex-Zaire para o controlo da produção de coltan, uma liga metálica estratégica para o fabrico de microprocessadores.
Mais recentemente, alguns membros de Phibro juntamente, com a AIG Fund, participaram em duas tentativas de desestabilização de Hugo Chavez, desta vez por causa do petroleo.


Anthony Ward mantém, como se deve, boas relações com os principais chefes de estado africanos, principalmente os "colocados" pelos países ocidentais, como no caso do antigo presidente Gbagbo. Até a recente crise política na Costa do Marfim, após as eleições, e a decisão do presidente recentemente eleito, Alassane Ouattara, de suspender durante um mês a exportações de cacau, contribuiu para a sua felicidade: os preços disparam em 160%.


Os pequenos agricultores são os que ficam mais fortemente penalizados por estas situações., quando já de si, um agricultor ganha apenas 5% do valor total do produto final.
No meio de tudo isto existe uma esperança de mudança, assim, o presidente do Gana decidiu aumentar o preço do cacau no produtor em 33% para melhorar as condições de vida, dos agricultores, motivar a produção e lutar contra os efeitos do contrabando.




http://afrique_univ-lyon.ruwenzori.net/msg00581.html

http://www.unctad.org/infocomm/francais/cacao/prix.htm

http://www.slate.fr/lien/25189/speculation-cacao-prix-bourse

http://www.evb.ch/fr/p15379.html

http://www.legrandsoir.info/Cote-d-Ivoire-Passions-et-realites-de-la-crise-ivoirienne.html


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